Título: Inferno 🔹 Autor (a): Patrícia Melo 🔹 Editora: Companhia das Letras 🔹 Ano: 2000 🔹 Páginas: 379 🔹 Classificação: 5/5
Patrícia Melo é uma escritora, dramaturga e roteirista paulistana radicada na Suíça. Adepta à literatura criminal, é conhecida pela dedicação à análise da mente de criminosos. Com 22 anos de carreira, Patrícia acumula 10 obras, dentre elas Acqua Tofana (1994), O Matador (1995), O Inferno (2000) e Ladrão de Cadáveres (2010).
Em 2001, a escritora ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura por seu trabalho em Inferno. A obra é a mais densa e arrojada da autora. Com 379 páginas, ela traça um rico painel de personagens do Rio de Janeiro.
Para Reizinho, só existia uma maneira de subir na vida: trabalhando no tráfico. No início do livro ele mostra sua indisposição em ser um trabalhador comum, como a mãe, que era diminuída pela patroa, Dona Juliana, e ganhava pouco. Ele queria ser como os garotos que trabalhavam para Miltão, líder do Morro do Berimbau; que estavam sempre esbanjando roupas de marca e cordões de ouro. Assim, ele passou por todos os postos até chegar a liderança – olheiro, avião e soldados. Antes de completar a maioridade, Zé Luís realiza seu sonho, mas certamente não esperava que o posto de líder era provisório. Essa consciência ele adquire no decorrer da narrativa, à medida que vai passando por situações semelhantes as que fez para chegar à liderança – armações, traição, conspirações. O primeiro capítulo que marca a ascensão de Reizinho, Patrícia Melo figura bem o estado de sonho do rapaz, quando, no primeiro parágrafo, descreve a variedade de yakults e danoninhos na geladeira nova do líder, vontade que tem desde que era pequeno e a mãe não podia dar além do básico – arroz, feijão e carne. É notável que o protagonista tem uma carência paterna extrema; isso é claro desde o início quando ele narra as fantasias que tinha com o pai – os passeios, viagens, idas à restaurantes e shows; além das coisas que fez para tirar o pai da rua e do alcoolismo. Quanto a mãe, Zé Luís, em determinado ponto, diz que não tem afeto nenhum por Alzira, provavelmente decorrente de tantas surras que levara. A queda de Reizinho vai além de perder a posição no narcotráfico. Ele precisa recomeçar.
Inferno é apresentado através do discurso indireto livre, ou polifônico, onde há um “narrador onisciente” que situa o leitor a uma variedade de personagens masculinas e femininas, que em conjunto, constroem um retrato do caos que envolve a vida na favela e as diversas formas que a violência assume.
📚 Concluindo…
Por fim, conclui-se que Patrícia Melo é um dos nomes mais fortes da literatura brasileira em geral, principalmente por tratar aspectos sociais que passam despercebidos. É importante ressaltar que esta obra foi publicada em 2000, e 16 anos depois continua atualizado. O estilo da autora, através do discurso indireto livre, uma trama bem articulada e com um ritmo acelerado, prende o leitor aos mínimos detalhes.
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